terça-feira, 8 de maio de 2012

Resenha: Freud, me tira dessa! - Laura Conrado

Um chick lit da melhor qualidade. É assim que defino o livro de estreia da Laura Conrado. Considero este o livro de estreia, porque os anteriores eram voltados ao público infantil. É com Freud, me tira dessa! que Laura dá seus primeiros passos na literatura "adulta", estreando "com louvor".
Não gosto de ficar esmiuçando a narrativa nas minhas resenhas. Acho que o objetivo de uma resenha, definitivamente, não é esse. Gosto de falar do que senti e experimentei ao ler o livro.
Então, vamos lá.
O livro é uma delícia! Envolvente e cativante, do início ao fim. Eu ficava com gostinho de "quero mais" cada vez que precisava interromper a leitura.
A escrita leve e fluida da Laura facilita demais a leitura. E o seu português "certinho" também. Embora pareça óbvio que um escritor escreva corretamente, não é o que tenho visto por aí, infelizmente. O que - é importante dizer - não é culpa apenas dos autores, mas também das editoras (com  exceções, é claro), que não prezam por uma revisão de qualidade.
A personagem central do livro, Catarina, é muito real, muito humana, e isso me agradou profundamente. Gosto de personagens com as quais me identifico. De carne e osso, como gosto de dizer. Apesar de amar os chick lits, às vezes, sinto falta disso nos personagens. Mas com a Catarina foi diferente. Ela é uma garota comum que, apesar de viver uma experiência insólita (apaixonar-se pelo analista), não se afasta do mundo real em nenhum momento.
Gostei muito da forma como a Laura tratou os problemas vivenciados pelos personagens - um misto de sensibilidade, humor e perspicácia. A relação de Catarina com sua mãe é um bom exemplo disso. Laura mostrou grande habilidade para tratar de uma questão, na minha opinião, complexa, sem decepcionar o leitor.
O universo dos personagens e seus dramas me acompanharam por um tempo, depois que já tinha terminado a leitura, especialmente a experiência vivida pela Fabi, por guardar íntima relação com o drama de uma das personagens do meu próximo livro.
Quem gosta de chick lits vai adorar. A Laura fala diretamente com o leitor. Parece um bate-papo, uma conversa entre amigas (ou amigos). Muito bom!!
Em resumo, garantia de boas risadas e boas reflexões.
Com certeza, recomendo!!


Freud, me tira dessa!


Sinopse: Freud, me tira dessa! narra a história de Catarina, uma jovem que passa a morar sozinha em função do novo emprego. Dona de uma vida amorosa catastrófica e disposta a rever suas escolhas, Cat busca ajuda na psicoterapia. Como se não bastasse o dolorido processo de conhecer a si mesma e de adentrar na relação com seus familiares, Catarina se apaixona pelo terapeuta. No auge de sua angústia, a personagem recorre ao pai da Psicanálise para sair dessa. Por meio das confusões de Cat, é possível não simplesmente rir, mas também se identificar com a profunda trajetória de autoconhecimento e aceitação da própria história.


Foto -Laura Conrado


Sobre a autora: Desde criança, Laura Conrado mostrava habilidade em criar histórias. O gosto pela escrita e pela leitura levou-a a se formar em Jornalismo. Trabalhou em jornais impressos, emissoras de televisão e assessorias de comunicação.
Aos 21 anos publicou seu primeiro livro "Miguel e Pão dos Anjos", pela Editora Santuário. A trama conta com muita aventura e suspense destinada ao público infantil.
Aproveitando a receptividade de seu primeiro livro, Laura lançou em 2012 histórias em forma de poema, também destinadas às crianças, no livro "Lendo com o Papai e a Mamãe", pela distribuidora Mãe da Igreja.
Seu primeiro romance destinado aos jovens leitores foi lançado em março de 2012. "Freud, me tira dessa!" traz a história da Catarina, suas confusões e trapalhadas amorosas. Buscando rever suas escolhas, Catarina inicia a psicoterapia e se apaixona pelo terapeuta. A história promete emocionar e divertir os leitores.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Resenha: Despertar - Helena Andrade

Sou suspeita para falar desse livro, porque ele é exatamente o meu estilo. Sabe aquela obra que você escolhe pela sinopse? Pois é!
Narrado em primeira pessoa, sob a ótica da protagonista Lívia, uma jovem madura e delicada, Despertar nos mostra como cada uma de nossas escolhas é capaz de mudar o curso de nossas vidas. Sempre que há escolha, há dúvida, mas isso torna tudo muito mais interessante. Uma história simples, mas real e emocionante, que me fez refletir sobre as decisões que já tomei na minha vida.
Quando Lívia, uma jovem pediatra, muda-se para Guayi, uma cidadezinha do interior do Amazonas, ela pretendia exercer a profissão por um ano, antes de partir para o exterior, a fim de se especializar em cirurgia pediátrica. Contudo, ao conhecer Thomas, um jovem fazendeiro bonito e envolvente, ela começa a se questionar a respeito do futuro que havia traçado para si mesma. Em conflito consigo mesma, Lívia inicia uma jornada interna (e intensa) que a leva a descobrir quem realmente é e o que de fato quer.
O texto da Helena é delicioso; sua forma de escrever prende e envolve o leitor, de modo que é difícil parar de ler. Eu me perdia na leitura durante horas...
Achei fascinante acompanhar cada passinho da personagem, compartilhar suas dúvidas e inseguranças, tão naturais e tão comuns na vida de um jovem.
A busca pelas respostas e a descoberta do que palpita no íntimo do coração é o cerne deste livro maravilhoso, que RECOMENDO, RECOMENDO e RECOMENDO!!!
Um ponto que eu não poderia deixar de destacar é a ambientação em solo nacional. Adoro!! Vibro quando os autores brasileiros fazem isso, e a Helena fez mais: ambientou a trama no Norte do Brasil, um lugar às vezes esquecido e subestimando, valorizando a beleza natural e a cultura regional.
Cinco estrelas!!




Sinopse: “Mergulhei, senti a sensação em todo meu corpo. Emergi, olhei na direção onde o deixei. Ele continuava no mesmo lugar, me olhando. Estendi minhas mãos e o convidei a vir comigo.” Lívia não podia imaginar as mudanças que aconteceriam em sua vida. Mudanças que a despertariam para uma nova perspectiva profissional, para uma nova visão de mundo... e para um grande amor. Acompanhe esta trajetória emocionante em Despertar!

 

Sobre a autora: Helena Andrade é casada e mãe de três filhos. Com formação em Contabilidade, exerce funções na gestão pública municipal de Campinas na área de saúde há mais de duas décadas.
Neste primeiro livro, deixa fluir por meio das palavras muito da sua sensibilidade, tanto ao dar vida aos personagens, quanto ao descrever lugares com uma qualidade impressionante de detalhes. É escritora de um conteúdo que nos proporciona momentos de prazer e aquele sentimento de “que pena que o livro acabou”, ao ler a última página.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Resenha: Os Meninos de Gateville - Renatho Costa

Na mesma semana em que me deparo com críticas ferrenhas à literatura nacional, tenho a oportunidade de ler Os Meninos de Gateville, do Renatho Costa, um livro impactante e desconcertante. Terminei a leitura com a impressão de que as críticas que li estavam completamente equivocadas. Não sei o que a pessoa andou lendo, mas certamente não leu nada do Renatho, porque o seu romance de estreia é a prova viva de que a nova geração de escritores brasileiros está, sim, reagindo. E reagindo muito bem. Existe sim uma nova safra de escritores incríveis, que, infelizmente, permanecem ainda desconhecidos do grande público. Seria mais produtivo que pensássemos a razão disso ao invés de "crucificar" a literatura, que conta com nomes promissores - é só procurar! Acreditem em mim: vocês ainda vão ouvir falar desse autor.
Bem, se eu precisasse definir o livro em uma única palavra, seria arrebatador. Tive uma experiência literária marcante. Pela sinopse, eu já esperava um texto forte, mas não imaginei que mexeria tanto comigo. Em diversos momentos, tive que suspender a leitura para absorver tudo o que o autor estava transmitindo.
O que há de tão especial nesse livro?
Em primeiro lugar, é o livro de um escritor maduro, com uma carga psicológica intensa. Portanto, não é para qualquer um. Advirto que o contexto é dramático, pesado e triste. Algumas partes são angustiantes ou, como prefere o autor, desoladoras. Enfim, é um livro adulto, escrito para leitores maduros.
Dito isso, eu o caracterizaria como um thriller psicológico surpreendente. Um dos melhores que já li.
Jimmy (o protagonista) é um escritor renomado que, ao se deparar com um crime aparentemente insolúvel, mergulha em uma investigação que abre as portas de seu próprio passado. Hipnotizado pelo caso bizarro que assolou Gateville, cidadezinha do Canadá, Jimmy decide descobrir o verdadeiro autor do crime, o que coloca em risco seu trabalho e sua reputação, ao mesmo tempo que o obriga a se confrontar com os fantasmas de seu passado doloroso.
Uma narrativa excelente (na falta de palavra melhor para defini-la), em primeira pessoa, que nos prende do início ao fim. Como já disse, nada me preparou para o que encontrei nesse livro, uma vez que a sinopse não desvenda minimamente o enredo construído de forma magistral pelo autor. E digo magistral, porque Renatho construiu um protagonista difícil de definir, por não ser simples, comum ou caricato, e uma trama que revelou um estilo bem original. É esperado que em um romance dessa natureza, envolvendo crimes e mortes, haja um motivo e um assassino a ser descoberto. Contudo, em vários momentos, duvidei de que a verdade algum dia aparecesse. Não acreditei que o protagonista seria capaz de desmascarar o assassino, colocando um ponto final nas dúvidas e perguntas que assolavam a população de Gateville. E mais: duvidei que fosse capaz de regressar ao seu passado, que talvez estivesse perdido. Renatho não mantém o padrão clássico dos suspenses investigativos. O leitor não sabe se aquela história terá fim ou se será irrecuperável. E isso é muito instigante, porque não é óbvio.
Enfim, adorei o livro do Renatho, que já entrou para a minha lista de favoritos. Mais uma demonstração de que, muitas vezes, o regresso ao passado e a descoberta de nós mesmos é a chave para todos os mistérios.


Sinopse: Jimmy, um escritor de sucesso, vivendo um momento de absoluto conflito emocional, sai para uma viagem sem rumo e acaba chegando à Gateville. Lá, o escritor se vê diante do maior mistério que até então vivenciou ou criou em seus romances e, sem que planejasse, assume o compromisso de descobrir o que aconteceu na noite em que o menino Tommy morreu. No entanto, as três crianças que estiveram com Tommy, no dia do crime, deixaram a cidade e Jimmy passa a procurá-las por vários lugares do mundo. Durante a procura pelos meninos de Gateville, a vida de Jimmy vai mostrando um lado que nunca havia sido exposto. Será que descobrir o que aconteceu com Tommy trará a redenção de um passado? É só isso que Jimmy pensa enquanto segue pista a pista, cidade por cidade até chegar ao Brasil.


Sobre o autor: Renatho Costa começou a carreira escrevendo roteiros para vídeos institucionais, mas na sequência passou a trabalhar com teatro e teve vários de seus textos encenados (alguns premiados). Como um prolongamento da carreira dramatúrgica, Renatho passou a escrever contos e com Os meninos de Gateville estreia nos romances. Paralelamente à carreira artística, o autor também desenvolve atividade acadêmica, sendo especialista em Terrorismo e Oriente Médio.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Resenha: Irresistível - Daiane Coll

Se eu precisasse dar um título à resenha, seria surpreendente. É isso que o livro da Daiane é. Desde o lançamento, fiquei bem curiosa com relação ao conteúdo. A capa é linda, e a sinopse chamou a minha atenção. Era questão de tempo até eu ler.
No entanto, nunca imaginei que nem a capa nem a sinopse me dariam pistas do que iria encontrar ali.
Irresistível é uma narrativa em primeira pessoa (e confesso que adoro narrativas assim!), em que Laura, a protagonista, conta a sua trajetória desde o momento em que se muda de Dois Vizinhos, município do interior do Paraná, para a capital, Curitiba, a fim de cursar a Faculdade de Direito. Desde a adolescência, ela namorava Guilherme, amigo de infância e vizinho, com quem tinha planos, ainda que distantes, de se casar. Contudo, nos primeiros meses na nova cidade, ela conhece o lindo e misterioso Alex, um advogado brilhante, que balança todas as suas estruturas. Ela rompe o namoro com Guilherme e mergulha de cabeça nessa relação, que não é simples nem estável. Laura descobre que Alex e sua família guardam segredos importantes, e a decisão de ficar com ele não é nada descomplicada.
Desde o início, eu me identifiquei com a personagem Laura, não sei se pelo fato de eu também ter escolhido cursar Direito, por ter passado alguns anos da minha vida no Paraná (um lugar especial para mim!), por compartilhar de seu inconformismo frente a uma vida previamente traçada por circunstâncias alheias à sua vontade, ou por tudo isso junto. O fato é que Laura percebe que deve dar (ela mesma) direção à sua vida, e é muito bacana acompanhar a personagem nessa "virada".
Sou uma eterna inconformista, não posso negar. Recuso-me a aceitar as coisas como elas são (ou parecem ser). Recuso-me a aceitar "verdades" impostas e não comprovadas. Talvez por isso eu consinta tanto com Isabel Allende quando ela diz que "no final das contas, o ato de escrever é uma tentativa de compreender as próprias circunstâncias e esclarecer a confusão da existência, inquietações que não atormentam as pessoas normais, mas somente os inconformistas crônicos."
Laura também é assim, razão que me fez associá-la, desde o princípio, à dama retratada no belíssimo (e sutil) quadro The Lady of Shallot, de Waterhouse.
Para esclarecer, o quadro foi inspirado por um poema, "A dama de Shallot" (1842), de Alfred Tennyson, baseado na lenda do rei Arthur (que sempre considerei fascinante). O poema reformula a temática arturiana baseada nas fontes medievais.
A dama da lenda estava presa há anos em uma torre de uma ilha fluvial, onde nada fazia além de tecer. Ciente de que seria amaldiçoada caso olhasse pela janela, ela apenas via o mundo através de seu reflexo no espelho. Abro aqui um parênteses: Qualquer semelhança com o Mito da Caverna de Platão não deve ser mera coincidência.
Mas, ainda sobre a lenda, cumpre dizer que, quando Sir Lancelot passa cantando em seu cavalo (e aqui dá para imaginar Alex, em seu cavalo), a dama logo se apaixona, larga o tear e corre para a janela. Então o espelho se quebra, anunciando a maldição. Ela deixa a torre, entra num barco e desliza devagar rio abaixo até Camelot, numa tentativa de ir contra o destino predeterminado pelas contingências. Belo, comovente e trágico.
A pintura de Waterhouse retrata o exato momento de partida da dama. A expressão de seu rosto e a cabeça ereta demonstram, a par da coragem, a ciência do que a aguarda. Mesmo assim, ela opta por sair do isolamento e enfrentar o mundo. Como diria Daiane Coll, "não há escolha sem consequências".
Impossível, pois, não associar a imagem da mulher que abandona sua cômoda vida por uma "paixão condenada" à Laura. Enxerguei a personagem, em diversos momentos, naquele barco, fazendo a sua escolha e assumindo as consequências.

Contudo, a trama de Daiane não para aí. Ela reserva aos leitores surpresas imprevisíveis. Permeada por um suspense permanente, a história prende o leitor do início ao fim. E, no final, nos deixa com um gostinho de "quero mais".
O que mais posso dizer?
Ah, sim, quem gosta de romance, ação e elementos fantásticos, vai adorar esse livro. Quem é fã de Nicholas Sparks e Stephenie Meyer, precisa conhecer urgentemente Daiane Coll.
Muito bom!!! Eu recomendo.


Sinopse: Quando se muda para Curitiba a fim de cursar a faculdade de Direito, Laura Schumacher não poderia imaginar que se apaixonaria à primeira vista pelo envolvente advogado Alexsander Gheler. Apesar de comprometida com o apaixonado Guilherme Villar, e ciente dos perigos de envolver--se com Alex e sua misteriosa família, Laura prefere correr todos os riscos e viver seu grande amor. Mas as consequências dessa escolha cobrariam seu preço mais cedo do que eles gostariam. 

 

Sobre a autora: Daiane Coll sempre cultivou o hábito da leitura, em especial de romances de ídolos como Nicholas Sparks, Meg Cabot e Nora Roberts, mas nunca imaginou escrevê-los. Irresistível nasceu no ano de 2009, do desejo de narrar às filhas uma das histórias que perambulavam por sua mente e de incentivá-las a criarem suas próprias narrativas. O que era para ser um simples conto ganhou tantos detalhes que se transformou num livro escrito em dois meses, iniciando um novo hobby em sua vida.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Resenha: Casas de Vampiro - Flávio Medeiros

"É inútil trancar as portas se o inimigo já se encontra do lado de dentro."

Foi com essa frase que Casas de Vampiro me arrebatou de vez.

Eu caminhava vagarosamente pela Leitura Megastore do BH Shopping, em um de meus programas favoritos - garimpagem literária -, quando me deparei com o livro em destaque na prateleira destinada à literatura mineira, ao lado de Rubem Fonseca. Logo, decidi tirar uma foto para enviar ao autor, o querido Flávio Medeiros. O que eu não esperava, no entanto, é que a sinopse do livro me obrigasse a lê-lo imediatamente.




Bom, é importante esclarecer que eu já conhecia o talento literário do Flávio, pois tive o prazer de ler o seu primeiro romance - Quintessência. Mas estava adiando a leitura do Casas de Vampiro, pois a minha lista de livros para ler estava (e ainda está) enorme!

Contudo, assim que li a sinopse da obra, em que está inserta a frase citada, percebi que não dava mais para adiar. E assim que dei início à leitura, constatei o óbvio: não dava mais para parar.

Em linhas gerais, a história dos mistérios que envolvem o protagonista Gil começa na infância, quando ele se depara, pela primeira vez, com uma "casa de vampiro". E ninguém passa por um lugar como esse e escapa impunemente. Obviamente, a vida de Gil é marcada por esse incidente, e ele descobre que a sua sobrevivência e a de sua família dependem da investigação de todos os segredos obscuros que ele sempre evitou.

Será que Gil é esquizofrênico? Ou será que encontrará as explicações para todos os eventos sobrenaturais que o perseguem? De quem são as "vozes" que ele escuta? Será que pode confiar em alguém? E em si mesmo?

Numa narrativa eletrizante, que mistura ficção científica e suspense investigativo, Flávio constrói uma trama instigante e envolvente que prende o leitor do início ao fim. Mistérios, segredos, intrigas, traições e grandes revelações são os ingredientes que tornam o enredo labiríntico e surpreendente.

Sempre tive certa fascinação por livros e filmes de vampiros, embora não seja fã inveterada de literatura fantástica. Contudo, Flávio conseguiu desconstruir tudo o que eu conhecia até então, apresentando uma nova perspectiva, que joga por terra a imagem do vampiro tradicional.

Eu pergunto: Existem vampiros? Quem são eles?

Flávio nos dá essas respostas, de uma forma nada óbvia. E, de repente, tudo o que você já leu ou ouviu sobre essa figura mitológica cai por terra, e você faz uma deliciosa releitura do "vampirismo" tradicional. E não é que a surpresa é boa?

"Talvez a imagem mitológica do vampiro seja mesmo a mais adequada que a humanidade tenha sido capaz de formular" (pag. 260)

Flávio descortina ainda questões muito interessantes relacionadas à imagem mitológica do vampiro, desde a Antiguidade. Faz menção a fatos históricos ligados à construção da imagem vampírica tradicional, citando, por exemplo, os inúmeros casos de porfíria na Idade Média, que chegaram a ser confundidos com vampirismo por falta de conhecimentos médicos na época.

Com certeza, a escrita desse livro exigiu estudos e pesquisas por parte do autor, o que lhe confere mais mérito. Gosto das leituras em que aprendo coisas novas, em que termino com aquela sensação de acréscimo. Senti isso ao terminar o Casas de Vampiro.

E senti também algo semelhante ao que experimentei quando assisti, pela primeira vez, ao filme A Vila, de M. Night Shyalaman. Nada é o que parece. E a surpresa é muito boa! No caso do filme, acho que atraiu o público errado, razão pela qual não teve a repercussão que merecia. No caso do livro, acredito que o desfecho está sendo diferente. Em outras palavras: não é um livro para o Homer Simpson. Não, ele não vai entender. Ele não vai perceber que Flávio toca em questões viscerais, de forma crua, como, por exemplo, a vulnerabilidade do ser humano, que ele aborda com maestria.

"O ser humano não capacitado consome todo o seu tempo de vida sendo jogado de um lado para outro, como um navio sem leme ou timoneiro, ao sabor do capricho dessas entidades mentais" (pag. 266)

Sempre acreditei na livre interpretação das obras. Como diria Carpinejar, a escrita nasce no momento em que é lida. Portanto, somos livres para encarar a obra como uma grande e bela metáfora. E, nesse caso, qualquer semelhança com a "vida real" não é mera coincidência. Isso me remete a outro filme, Matrix, que, de certa forma, utiliza os mesmos recursos que o autor para expôr tema semelhante.

Não posso falar mais, pois corro o risco de ser indiscreta e produzir um spoiler. Cada um deve ter o prazer de degustar, por conta própria, esse livro. Mas fica um conselho: não deixe de dar especial atenção ao capítulo final - Entrevista com o Vampiro -, pois é sensacional!

Para quem gosta de um bom suspense, o livro tem ótimas cenas, que me deixaram arrepiada. E, para quem gosta de ação, Flávio dá de presente cenas que fazem valer toda a leitura.

Enfim, Casas de Vampiro é uma obra imperdível, uma bela homenagem ao mito (não sei se antigo ou eterno; seria melhor que Dante Alighieri respondesse) vampírico.

Literatura nacional da melhor qualidade. Super recomendado!!!

Sinopse:

Muitos mistérios acompanham a humanidade desde os primórdios, sem jamais vir à luz uma resposta satisfatória sobre eles. Lendas nada mais são que tentativas do homem de explicar de forma figurada os fenômenos que extrapolam a razão e ameaçam arremessá-lo nos rumos tortuosos da insanidade. Entrar em uma “casa de vampiro” é abrir a porta para enigmas milenares. Mas o preço pago pode ser alto demais. E é isso o que Virgílio descobre depois que um incidente em sua infância desencadeia uma série de acontecimentos que irão assombrá-lo até a morte. É inútil trancar portas se o inimigo já se encontra do lado de dentro. O mundo é ameaçador quando descobrimos não estarmos mais no topo da cadeia alimentar. O desconhecido é mais piedoso do que as verdades antes ocultas. As “casas de vampiro” estão sempre próximas. Mas você não sabia. Agora sabe. E, ainda assim, pode ser tarde demais. Descubra.

Sobre o autor:
Flávio Medeiros nasceu em Belo Horizonte, onde vive com a esposa e uma coleção absurdamente grande de filmes, livros e histórias em quadrinhos. Formado em Medicina pela UFMG, especializou-se em Oftalmologia. Escreve desde a infância, tendo produzido uma grande quantidade de contos, crônicas e cartoons, publicados em jornais universitários e suplementos culturais. Também escreveu e dirigiu peças teatrais. Publicou seu primeiro romance em 2004: Quintessência, uma história policial com ambientação de ficção científica. Foi vencedor do Prêmio Bráulio Tavares em 2008, na categoria minicontos. Possui contos publicados em vários livros.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Diário de bordo literário

Aceitei o desafio e, finalmente, coloco no ar o meu diário de bordo literário, espaço destinado a compartilhar com os bookaholics (como eu) as minhas resenhas literárias.

Sem mais delongas, seja bem-vindo(a)!